Morreu nesta sexta-feira (14), aos 79 anos, a empresária, cozinheira e escritora Charufe Nasser, conhecida em Manaus por suas receitas tradicionais da culinária cabocla, entre elas a famosa “tartaruga guisada”. Ela estava internada desde quarta-feira (12) em uma unidade pública da capital e faleceu após sofrer sucessivas paradas cardíacas.
Segundo amigos próximos, ela começou a passar mal ainda no início da semana e procurou atendimento no Hospital 28 de Agosto, na Zona Centro-Sul de Manaus. De lá, foi transferida para o Hospital Francisca Mendes, na Zona Norte, onde sofreu três paradas cardíacas e um acidente vascular cerebral (AVC). A cozinheira chegou a passar por cateterismo e angioplastia, mas não resistiu às complicações.
Os familiares ainda não divulgaram informações sobre o velório e enterro.
Trajetória e memórias
Filha de família árabe, Charufe ganhou destaque na gastronomia amazonense ao combinar tradições regionais com memórias afetivas em pratos que marcaram presença em eventos de Manaus. A mais comentada foi a tartaruga guisada, sempre preparada com os temperos que ela considerava fundamentais na culinária cabocla, como cheiro verde, alfavaca, coentro, chicória e cebolinha.
Nas décadas de 1980, 1990 e 2000, Charufe comandou restaurantes que se tornaram ponto de encontro na cidade e consolidou sua reputação como banqueteira preferida em festas e grandes eventos sociais.
Em 2017, lançou seu segundo livro, Banquete de Lendas, obra que mistura receitas, versos e histórias da culinária regional. Em entrevista ao A CRÍTICA à época, Charufe relembrou episódios marcantes da carreira, incluindo o caso envolvendo o preparo de tartaruga, que acabou levando a cozinheira a responder a um processo.
“Fui presa por causa da tartaruga”, contou na época. “A pessoa que me vendia tartaruga foi pega com 59 tartarugas e, na hora, disse ao fiscal que eram minhas. E não eram. A Polícia Federal entrou aqui, invadiu, tirou tudo do meu guarda-roupa. Até dentro das descargas eles procuraram”, contou.
Para ela, o prato fazia parte da memória afetiva do povo amazonense. “Antigamente, não tinha aniversário sem tartaruga. Meu pai era seringalista e trazia 300 tartarugas no motor dele. Lembra minha infância, minha juventude”, disse Charufe, ao destacar que foi licenciada posteriormente para trabalhar com o ingrediente, mas mantendo o manejo correto e a comercialização legal, com nota fiscal e selo do viveiro.
Apaixonada pelo que ela considerava a “essência da cozinha cabocla”, Charufe costumava afirmar que os temperos tradicionais eram indispensáveis à identidade gastronômica do Amazonas. “O nortista usa cheiro verde em tudo e dá um sabor maravilhoso. Não pode existir tartaruga sem coentro, chicória e alfavaca. Esses temperos aguçam o sabor da tartaruga e do peixe. Uma caldeirada sem coentro não termina, fica pela metade”, defendia a cozinheira.
A Crítica*
